
O custo total dos roubos de carga
September 21, 2016
Por Pascal Matthey
Chefe da Engenharia de Risco das Linhas Especializadas, AXA XL
Mãos ao alto...
"Bandidos de Estrada" exerceram seu ofício em toda a Europa durante centenas de anos e o termo apareceu impresso pela primeira vez em 1617. Para os bandidos de hoje, mercadorias de caminhões são especialmente atraentes.
Primeiramente, trata-se de um ambiente rico. Na Europa, as estradas estão repletas de caminhões transportando todo tipo de mercadoria entre as principais cidades, áreas de fabricação e portos – tudo isso através de fronteiras abertas.
Outro ponto é que as gangues atuais conhecem bem a movimentação de diferentes mercadorias pela Europa e, frequentemente, já têm um objetivo específico em mente; produtos de alto valor e fácil revenda, tais como produtos farmacêuticos, bebidas alcoólicas, eletrônicos, roupas e leite em pó para bebês são especialmente desejáveis.
Muitas vezes, elas simplesmente seguem o alvo e esperam pela melhor oportunidade para agir. Isso costuma acontecer quando o motorista sai da estrada para um descanso. Os criminosos roubam o caminhão, transferem a mercadoria o mais rápido possível para outro veículo e saem geralmente em direção a outro país. Se o motorista for feito refém durante esse processo, ele geralmente é liberado ileso; pelo menos na Europa, esse tipo de roubo raramente inclui violência.
Atualmente é mais fácil do que nunca vender mercadorias roubadas. A maioria desses criminosos as oferece em plataformas online e evita chamar atenção indevidamente, vendendo pequenas quantidades com descontos modestos. Outra opção é fazer acordos com atacadistas inescrupulosos, que compram os produtos sem a devida documentação.
Além disso, a possibilidade de venda online torna a atividade ainda mais atraente. Com esse tipo de transação é possível vender a mercadoria por cerca de 70-80% do seu valor de varejo; muito melhor do que os 25-35% obtidos nos dias pré-internet. Portanto, o valor "médio" de uma mercadoria roubada pode chegar a cerca de EUR 70 mil, podendo atingir EUR 150 mil ou mais, para o caso de uma carga de valor maior. Apesar de não ser um valor tão elevado assim, já é suficientemente tentador para muitas organizações criminosas. Contudo, ainda não é o suficiente para que as autoridades invistam recursos em ações de recuperação de mercadorias.
Por fim, no caso pouco provável de os ladrões serem pegos, o fato de os roubos geralmente serem relativamente modestos e realizados de forma não violenta resulta em apenas penas curtas, de um ou dois anos de prisão.
Custos indiretos significativos
Um estudo constatou que o valor da mercadoria roubada em trânsito na Europa, em 2013, totalizou EUR 11,6 bilhões. É importante ressaltar que esse valor foi 41% maior do que o registrado em 2007, mesmo com a redução de 20% dos volumes de carga como resultado da queda econômica e da lenta recuperação da Europa. Por outro lado, os casos de roubo tendem a ser inversamente proporcionais à economia em geral; aumentando quando a economia vai mal e vice-versa.
Esse estudo também estima o valor médio de mercadoria roubada na Europa em EUR 91 mil.
E esses números se referem apenas aos roubos denunciados. Sabe-se que algumas empresas preferem não registrar esse tipo de ocorrência para evitar danos à sua reputação/marca.
Além disso, esses custos representam apenas o valor de venda direta dos produtos no varejo. Outros estudos verificaram que custos indiretos não reembolsáveis, decorrentes de um roubo de carga, são de quatro a seis vezes maiores do que o custo direto que poderia ser recuperado por meio de seguro.
Um bom exemplo são os produtos farmacêuticos, especialmente atraentes para esses criminosos por terem dimensões pequenas e alto valor monetário. Na verdade, o roubo de mercadorias foi identificado como principal ameaça de segurança para empresas farmacêuticas na Europa. A pesquisa sobre o custo total para fabricantes farmacêuticos, em consequência de roubos de mercadorias, resultou em um conjunto de custos indiretos, incluindo:
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Teste, destruição e recolhimento de produto. Caso as mercadorias sejam recuperadas, elas precisam ser totalmente destruídas ou testadas com o mesmo nível de exigência usado em produtos comprometidos, que também devem ser destruídos. E se a mercadoria roubada não for recuperada, o fabricante pode ser forçado a recolher as unidades restantes do mesmo ciclo de produção. Apesar dos cenários de teste e destruição terem custos altos, os esforços de recolhimento pode rapidamente chegar à casa dos milhões. Essas mesmas condições se aplicam a muitos produtos alimentícios, outro alvo cobiçado pelos ladrões de carga.
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Produção e transporte de produto de substituição. Pode ser especialmente custoso se o produto não puder ser substituído no inventário existente e uma nova fase de produção precisar ser agendada. Nesse caso, o cronograma de produção da empresa pode ser interrompido, levando a custos adicionais com horas extras de funcionários.
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Investigação e aumento de segurança. Esses incidentes frequentemente destacam falhas no regime de segurança da empresa, que precisam ser identificadas e corrigidas.
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Impacto em vendas/relações com clientes. Sempre que uma empresa atrasa uma entrega programada, existe a possibilidade de o cliente, seja atacadista ou varejista, procurar um concorrente.
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Comunicações/Relações Públicas. Quando ocorre o roubo de produtos farmacêuticos, é necessário notificar as agências de saúde pública e realizar um trabalho de relações públicas para alertar médicos, farmacêuticos e pacientes. Embora a equipe interna de uma empresa possa gerenciar esses esforços, também não é incomum a empresa contratar profissionais terceirizados para organizar e coordenar esse tipo de ação.
Monitorar e treinar funcionários, planejar com antecedência e proteger o alvo
A prioridade, ao minimizar a possibilidade de um roubo de mercadoria, é monitorar e treinar os funcionários. Monitorar é essencial, uma vez que, de acordo com algumas estimativas, até 80% dos roubos de mercadorias começam com uma fonte interna, passando informações sobre a natureza, destino e data de transporte de uma mercadoria valiosa.
Além de treinar motoristas sobre formas para identificar e evitar situações de risco, eles também devem ser orientados sobre como reagir em caso de sequestro. A forma como um motorista reage ao ser abordado por criminosos pode salvá-lo e ainda ajudar nos esforços de recuperação da carga.
No caso de mercadorias de valor alto, é interessante instruir o motorista a não fazer paradas logo após pegar a mercadoria; depois de um tempo os ladrões podem se entediar e abandonar a perseguição. Muitas empresas também têm o cuidado de limitar viagens durante a noite e aos finais de semana, quando os riscos aumentam.
Há também várias opções para dificultar a chegada dos criminosos à mercadoria ou o roubo do caminhão. Isso inclui medidas físicas como caminhões de revestimento duro e dispositivos de trava que evitam que os ladrões entrem na cabine ou desativem o motor.
Por fim, a instalação de sensores de rastreio e monitoramento está se tornando mais comum, uma vez que os custos de sensores diminuíram consideravelmente e podem fazer a diferença. Nesse caso, no entanto, os custos de sensores são apenas uma parte da solução. Para serem eficazes, é necessário que alguém monitore os dados – um custo que as empresas normalmente não contabilizam.
Infelizmente, bandidos de estrada modernos irão continuar a rondar as vias europeias em busca de mercadorias de alto valor. Como um policial comentou: "É muito rentável." No entanto, há várias medidas práticas que as empresas podem tomar a fim de minimizar e mitigar esse risco, e as seguradoras com experiência em carga e especialistas em engenharia de risco podem ajudar a criar estratégias adequadas para lidar com essa ameaça. E, ao analisar diferentes abordagens, é importante que as empresas reconheçam que os custos indiretos do roubo de carga, incluindo possíveis danos à reputação/marca da empresa, são superiores aos seus custos diretos.
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